No universo do conteúdo nacional, onde criatividade e perseverança são a moeda mais forte, surge a série "O Próximo Mundo" – uma obra que não só desafia as limitações da produção solo, mas que coloca o Brasil no mapa da ficção pós-apocalíptica mundial.
Em uma conversa franca e inspiradora, com a mente por trás dessa jornada épica: Douglas Xavier, criador do canal The Walker Center e diretor da série. Das primeiras ideias rabiscadas em cadernos escolares aos complexos processos de animação 3D, Douglas abre o jogo sobre os 7 anos de desenvolvimento que culminaram na primeira temporada da série.
Nesta entrevista exclusiva, você vai descobrir:
A centelha inicial que deu vida a um Brasil pós-apocalíptico único.
Os enormes desafios técnicos e criativos de uma produção quase solitária.
Os segredos dos personagens que cativaram o público.
Os planos ousados para a segunda temporada e a construção de um estúdio.
Conselhos valiosos para quem sonha em criar seu próprio projeto de grande escala.
Se você é fã de histórias bem-contadas, animação ou simplesmente acredita no poder do sonho brasileiro, esta entrevista é para você. Vamos lá?
Entrevista com Douglas Xavier, Criador de “O Próximo Mundo”
(A entrevista começa aqui)
Entrevistador: Douglas, muito obrigado por aceitar este convite. Para começar, gostaria que você contasse um pouco para o nosso público sobre a sua jornada como criador de conteúdo. Como o The Walker Center começou e o que te motivou a investir em projetos autorais de grande escala, como a série ‘O Próximo Mundo’?
Douglas Xavier: Eu quem agradeço o convite! Acho que vai ser muito legal poder falar sobre essas coisas que tanto me são caras com vocês e a audiência!
Bom, eu não consigo te dizer ao certo quando começa a vontade de criar projetos grandes e contar as minhas histórias autorais pra uma galera, porque eu faço tudo isso desde muito criança; desenhos, mangás, eu fazia essas coisas e distribuía para as pessoas lerem. A escola foi um grande palco para isso; eu fazia um mangá, encadernava ele de improviso e ele ia passando de mão em mão. Isso desde muito moleque. Sempre com aquele grande sonho de fazer algo grande, algo de sucesso, então eu nunca parei.
Em meados de 2010 eu comecei com o audiovisual, gravando coisas com meu irmão e um amigo meu, na roça, com uma câmera arcaica de um MP5, que era a única coisa que eu tinha.
Mais tarde fui aprendendo o básico de edição e assim foi... Não conseguia ficar longe disso. Sempre pulando de um projetinho para o outro.
Até chegar em 2016, quando crio o canal The Walker Center simplesmente porque eu queria falar da minha série favorita. O canal começou a dar certo logo nos primeiros vídeos e a partir dali eu, pela primeira vez, construía uma audiência cativa pra quem eventualmente eu poderia mostrar esses projetos autorais que sempre andaram comigo.
Entrevistador: E falando especificamente sobre a obra: para quem ainda não conhece, como você descreveria ‘O Próximo Mundo’ e os personagens? Qual é a premissa central dessa história e o que a torna única no cenário de ficção pós-apocalíptica?
Douglas Xavier: Eu sempre acreditei naquele papo de que uma boa história pode ser resumida em uma frase curta e, pensando nisso, eu meio que criei uma frase que quem me acompanha conhece bastante e é até um jeito de eles mesmos explicarem de maneira fácil para as pessoas do que se trata:
“O Próximo Mundo é uma série de animação pós-apocalíptica ambientada no Brasil”.
É tudo o que a pessoa precisa saber pra ter aquela faísca de interesse inicial. A ideia é trazer esse tema da sobrevivência em uma situação de colapso total da sociedade para o contexto brasileiro, com nossa bagagem, nossa cultura, nossos sotaques e nossa geografia.
O Brasil é um país muito vasto e diverso, é como se tivéssemos vários "Brasis" dentro de um só e isso é rico o suficiente para ser o plano de fundo desse drama/aventura que acompanha esse pessoal que tá vivendo a experiência mais traumática e definitiva da história da humanidade. Seriam eles os últimos indivíduos de uma espécie fadada a extinção? É possível almejar alguma vida num mundo onde quase todo mundo que você conhecia morreu e agora faz parte de um exército imparável que tenta, incessantemente, completar a extinção da humanidade?
E diante desse contexto assustador e extremo; como a mente humana reage? Que decisões esses indivíduos vão tomar para continuarem respirando e mais; será que eles têm força para isso? Eu acho que esse é o pulo do gato quando se trata de uma boa obra pós-apocalíptica e no caso da minha, seu maior diferencial é o Brasil e os brasileiros que a protagonizam. A gente já viu em obras como The Walking Dead, The Last of Us, dentre outras, como os americanos agiriam. Agora é hora do Brasil.
E, claro, sem dar muito spoilers; uma coisa que torna o "OPM" diferente é sua construção de mundo cadenciada que lentamente vai assumindo uma forma própria, no plano de fundo. Com suas próprias regras e que levam a série a tomar seu próprio rumo.
Concepção e Inspiração
1. "O Próximo Mundo" é uma série pós-apocalíptica ambientada no Brasil, um cenário ainda pouco explorado. Qual foi a centelha inicial da ideia e que elementos da cultura e da geografia nacional você considerou essenciais para incorporar à história?
Douglas Xavier: O Próximo Mundo teve sua centelha no finalzinho de 2017, quando eu tinha consolidado algum público fiel e queria partir para algo autoral que atendesse as demandas desse público em específico, então a primeiríssima ideia era fazer um live action, que na verdade seria um spin off não oficial, feito por fã, de TWD se passando no Brasil. A ideia era mostrar o contexto brasileiro no universo de TWD.
Mas conforme eu escrevia os primeiros rascunhos, não demorei a perceber que fazer uma história minha no universo de outro seria uma má ideia e que isso iria limitar demais a trama e já estava preso àquele universo no qual eu não apito nada (sem falar de possíveis complicações com a AMC caso isso se popularizasse demais). Foi aí que eu comecei a trabalhar num universo próprio, com suas peculiaridades, regras e o projeto foi para um rumo, completamente diferente e muito melhor.
Já os elementos da cultura brasileira indispensáveis, eu diria que são todos os que dessem para colocar em tela. O máximo possível. Quanto mais, melhor! Muita coisa nativa; expressões super específicas e regionais, sotaques bem-marcados, lugares reais representados detalhadamente como eles são. Tudo para trazer ao público, também brasileiro, essa textura de Brasil. De que realmente estamos aqui.
2. A série é descrita como um "sonho realizado" – quanto tempo levou desde o roteiro até a conclusão. Quais eram as suas principais referências artísticas (como filmes, séries, livros ou quadrinhos) durante o processo de criação desse mundo?
Douglas Xavier: As primeiras ideias começam no finalzinho de 2017, mas eu boto a mão na massa mesmo com os primeiros roteiros no início de 2018, pra produzir um live action de “OPM”!! Esse roteiro é finalizado mais tarde nesse mesmo ano e embora ele tenha passado por inúmeras revisões e mudanças ao longo de todos esses anos, o core dele é o mesmo desde então.
Em agosto de 2019 eu chego à conclusão de que o projeto seria muito mais viável se fosse uma animação. Devido à falta de recursos e experiência, seria mais palpável fazer a animação e dali até fevereiro de 2025, com o lançamento do episódio 6, último da primeira temporada, é que terminamos tudo. Portanto são 7 anos tentando colocar aquele roteiro em tela da melhor forma possível. Por isso é um sonho realizado.
A inspiração mais óbvia é o The Walking Dead, mas certamente tudo o que eu consumo na ficção acaba sendo inspiração e influencia a nossa criação, mesmo que indiretamente. Lost por exemplo é uma das minhas séries favoritas também e, portanto, você vai encontrar elementos de Lost nas minhas obras. Mas eu diria que há outra coisa na qual eu me inspirei muito na criação do universo da série, que foi a minha própria vivência. Eu fui criado aqui! Estive por aqueles cenários da série. Aquele climinha, aquela atmosfera, não são coisas inventadas. São coisas que eu vivenciei pessoalmente e portanto foram utilizadas na criação do mundo, representação de lugares e personagens.
3. O título "O Próximo Mundo" é bastante sugestivo. Ele se refere apenas ao colapso da sociedade ou carrega significados mais profundos e filosóficos sobre renascimento e evolução humana?
Douglas Xavier: O Próximo Mundo é uma obra pós-apocalíptica e como tal, ela não lida com o momento do cataclisma em si, mas com as consequências dele, com o que vem depois. É um mundo diferente. Aquele que a gente conhecia não volta mais. Agora veremos o “Próximo Mundo”. O nosso planeta estava aqui antes de nós e vai continuar aqui depois, não importa de que maneiras decidamos nos explodir. Ficaremos no passado, mas o mundo há de continuar.
Na série, esta Era posterior a era dos humanos é o Próximo mundo! Talvez em algum momento na história eles até verbalizem isso?! Teremos que ver.
Produção e Desafios
4. Quais foram os maiores obstáculos técnicos e criativos que você enfrentou durante a produção da primeira temporada, especialmente em áreas como animação 3D e pós-produção?
Douglas Xavier: Bom, eu diria que todos! Absolutamente tudo é um desafio quando você decide fazer algo assim, tão maior que você, num fundo de quintal sem muita experiência e recurso. Tudo era lento, tudo demorava muito mais do que o planejado. Demorava tanto que eu calculava com folgas astronômicas os prazos e mesmo assim estourei todos, com atrasos de anos. É tudo muito artesanal, tem que ser feito com muito cuidado o que é obscenamente lento e essa lentidão toda, essa complexidade extrema que todos os departamentos exigiam, fazia com que eu tivesse que ter uma visão de longíssimo prazo pra tudo, pois só assim eu veria algum progresso. Essa foi a principal dificuldade!
Eu sempre amei o processo da criação! Todas as etapas têm seu charme e eu gosto de fazê-las, independentemente da complexidade. Mas o difícil mesmo era trabalhar por uma semana inteira sem parar, de maneira extrema, as vezes até prejudicial a minha saúde para no fim, ver que ainda faltava um mundo de progresso pela frente. Você não enxerga o fim. Daí passa um ano inteiro e você continua não enxergando o fim. Isso sim é a principal dificuldade! Não bastasse tudo ser complexo demais, ainda parecia infinito.
5. A série utiliza uma estética visual única, mesclando elementos realistas com animação. Como você desenvolveu esse estilo visual e quais foram as decisões criativas por trás dessa escolha?
Douglas Xavier: O 3D em OPM não estava presente no começo da obra, mas mesmo no começo da obra os cenários eram bem detalhados! Tudo isso é uma tentativa de fazer a pessoa sentir o cheirinho do lugar. Como se ele existisse mesmo. Mas principalmente; eu queria que parecesse orgânico e dinâmico. Eu queria que a pessoa assistindo OPM, sentisse que aquilo estivesse sendo filmado, naquele lugar, com uma câmera. Queria que o telespectador sentisse a oscilação da câmera, a textura de filme, até mesmo defeitos de uma filmagem em loco, como personagens saindo do foco, câmera com dificuldade de focar e enquadrar na hora da ação desenfreada.
Essas coisas geram imersão! Por isso aquela estética foi adotada e por isso o 3d. É anos luz mais fácil você fazer uma câmera viva que passeia pelo cenário durante a cena, quando você de fato tem um espaço tridimensional ali modelado por onde essa câmera pode percorrer.
6. Lidar com imprevistos e atrasos é parte de qualquer produção independente. Como você manteve a motivação e a visão do projeto consistentes ao longo de tantos anos, especialmente quando confrontado com esses desafios?
Douglas Xavier: Eu simplesmente não via um mundo onde eu não conseguisse terminar isso.
Suponhamos que eu só desistisse no meio... seria muito mais fácil! poderia me dedicar mais ao meu canal - que é meu sustento e por muitas vezes nesse meio tempo ficou muito de escanteio, o que o prejudicou muito - a minha saúde agradeceria, até o meu bolso, já que é muito mais lucrativo apostar num vídeo que eu sei que vai dar certo e que leva 3 dias para se produzir do que um que leva literalmente anos. Eu poderia só desistir... é o que mais de 90% dos produtores independentes fazem, afinal. Mas eu ia desistir e fazer o que? Desistir e voltar a fazer algo que eu não acredito tanto quanto isso? Eu, como artista, não sei se sobreviveria num mundo onde eu desisti antes de ver esses 6 episódios concluídos. Eu não consigo me ver desistindo daquilo que era minhas principal Obsessão por tantos anos da minha vida. Por isso eu nunca sequer pensei em desistir ou coisa assim; vivi um dia de cada vez, com a certeza de que eu estava fazendo o que eu verdadeiramente acreditava.
Narrativa e Personagens
7. Sem entrar em spoilers, o episódio 6 é citado como um marco e um ponto de virada. Sem revelar detalhes, como você equilibrou a conclusão de alguns arcos com a abertura de novas portas narrativas para futuras temporadas?
Douglas Xavier: Bom, os novos arcos surgem naturalmente quando você tem um objetivo final no qual você quer chegar e ao mesmo tempo, tinha o objetivo final daquela temporada específica. Uma coisa que torna o episódio 6 a melhor coisa que eu já fiz na vida disparado, é o fato de toda a temporada ter construído aquele momento específico, portanto muita coisa foi deixada pra ser fechada ali naquele momento. Na prática isso culminou num episódio muito mais grandioso que todo o resto, um pico narrativo muito, muito alto, com diversas coisas de muito peso acontecendo uma atrás da outra, o que traz essa euforia para quem assiste e era esse o objetivo do episódio. Causar esse turbilhão de sentimentos. É um episódio com inúmeros ápices, dezenas de minutos de ação ininterrupta ao mesmo tempo que tem uma carga dramática violenta, principalmente no final. Pois a temporada inteira serviu para fazer com que o público se importasse com aqueles personagens e agora eles estão enfrentando algo implacável, sem precedentes.
Obviamente, tal perigo pode trazer consequências e essas consequências podem ser o verdadeiro ápice temporada. Ao mesmo tempo, existe algo maior que isso sendo orquestrado para o futuro e essa própria conclusão acaba se tornando ferramenta crucial para que eu eventualmente chegue nesse final.
8. A série é conhecida por ser "direta ao ponto". Como foi o processo de edição de roteiro para manter esse ritmo acelerado e o que, necessariamente, precisou ser deixado de fora que você gostaria de ter explorado mais?
Douglas Xavier: Em primeiro lugar, são 9 anos trabalhando com YouTube; eu conheço bem o ritmo da plataforma, o ritmo que o conteúdo precisa ter para performar. Não estamos na tv, ou na Netflix, no YouTube as coisas precisam avançar o tempo inteiro e na verdade, decidir o que fica de fora é um trabalho mais fácil do que parece. Uma vez que os recursos são muito limitados, o essencial já representa um esforço astronômico para se produzir. Fica fácil deixar a história com um ritmo matador. Eu nem conseguiria deixar ela cadenciada com tanta coisa para contar e sem nenhum recurso pra estender coisas mais do que o essencial. Nesse quesito, a limitação acabou servindo muito bem ao projeto.
9. Quais personagens foram os mais desafiadores ou gratificantes de desenvolver ao longo desta primeira temporada e por quê?
Douglas Xavier: Bom, posso dizer que essa talvez seja a sua melhor pergunta! Eu amo falar dos meus personagens e naturalmente gosto de todos eles. Eu os criei para serem muito diferentes entre si, de modo que cada um pudesse ser admirado à sua maneira. Se você sair perguntando pros fãs, cada um vai ter um personagem preferido diferente e isso é meu maior orgulho. Existe ali um panteão de personagens únicos o suficiente para terem fãs individualmente. Portanto é difícil eu escolher um deles apenas.
Mas veja, o Henrique foi um personagem desafiador de se produzir pois ele tem logo de cara um arco muito emocional acontecendo ali e pra piorar, durante sua primeira aparição ele fica o episódio inteiro sozinho, com muito tempo de tela e sem nenhum personagem de apoio pra quem ele possa expor seu estado emocional e mental. Foi aí que eu criei um dos meus artifícios favoritos da temporada; o fato desse personagem gravar as coisas como uma espécie de documentário. Ele conversa com a câmera, sempre tentando render algum tipo de conteúdo, mesmo estando num estado mental visivelmente comprometido. Portanto a maneira como o drama desse personagem foi entregue nesse episódio foi extremamente desafiadora de se desenvolver. Esse (o episódio 02) foi um dos episódios mais desafiadores de se escrever e montar. E ao mesmo tempo foi muito gratificante.
E quando se fala em desenvolvimentos gratificantes de se executar, eu não me perdoaria se não citasse Anna e Lia também. Que talvez sejam minhas favoritas ali no todo da série. A temporada começa com elas e termina com elas, em cenas que são quase um espelho uma da outra. Essas duas são muito complexas, muito interessantes e muito cheias de camadas. São duas irmãs que perderam a mãe logo no começo e todo o resto da família também, tudo o que elas têm agora é uma a outra.
Uma é sensível, reclusa e claramente sofre de algum quadro depressivo devido as perdas e apesar de ela não ser um dos elos mais fortes do grupo, fisicamente falando, ela não cai no clichê da personagem frágil que acaba prejudicando o grupo em algum momento, que foi uma coisa que a audiência quase jurava que ia acontecer quando assistiram aos trailers e prévias. No fim, a Lia tem sua própria força, sua própria inteligência e em alguns momentos ela, a Lia, a sua própria maneira, é na verdade o elo que une o grupo. Mesmo não tendo o advento da liderança, ou da força bruta necessária nesse contexto selvagem.
Já a Anna é o oposto. Ela parece um cachorro que apanhou muito, ficou traumatizado e agora ataca tudo o que parecer ameaçador. Ela é intensa, cheia de ímpeto e sua obsessão por proteger a irmã, tarefa dada pela própria mãe no leito de morte, torna essa personagem uma das mais fortes de todas. Apesar do seu tamanho diminuto de 1,50M, de ser a irmã mais nova e uma das mais jovens do grupo, esse ímpeto faz com que Anna diversas vezes supere limites por meio de uma pura indignação e recusa do fracasso. Tudo é maior do que ela, mas ela não consegue imaginar um mundo onde ela fracasse e perca a única coisa que sobrou.
Futuro e Expansão do Universo
10. A segunda temporada já está confirmada. Quais são as suas principais ambições para elevá-la em termos de escala, qualidade técnica e desenvolvimento da história em relação à primeira?
Douglas Xavier: Na primeira temporada eu me foquei exclusivamente na tentativa de trazer algo mais simples e que fosse extremamente eficiente, mas na segunda vai ser o momento de se aprofundar e sobretudo, o universo começará a ser explorado com maior intensidade; conceitos novos que as pessoas nem sequer imaginavam serão apresentados e mistérios serão respondidos.
Também quero que a qualidade técnica aumente consideravelmente e principalmente, montar uma equipe maior para que a produção se torne mais ágil também.
11. Você tem a intenção de montar uma equipe maior para a sequência. Como você visualiza a evolução do seu papel de criador solitário para o de líder de um estúdio, e quais funções específicas você busca delegar?
Douglas Xavier: Vamos começar com o mais básico; eu almejo muito ter pelo menos 3 colorizadores trabalhando simultaneamente na série. Já tivemos na primeira temporada e eles me ajudaram a ganhar muito tempo. Mesmo a colorização sendo uma etapa mais simples do processo, ela é demorada.
Agora, coisa que não tivemos na primeira e que seria maravilhoso ter na segunda é um artista 3d para otimizar a criação dos cenários; alguém que fosse melhor do que eu, uma vez que eu fui aprendendo o 3d conforme fazia, pras aplicações específicas que eu precisava, então não sou um artista 3d excepcional. Seria bom ter esse cara na produção.
Alguém para acabamentos como luz, sombra e texturização dos personagens seria muito bem-vindo também.
E tem o mais difícil, mas que já estou à procura de pessoas para isso; alguém para me auxiliar no traço, na line art de tudo. Alguém que consiga replicar o traço de OPM de maneira satisfatória, para que possa produzir pelo menos quadros intermediários da animação, seria incrível.
O resto, pós-produção, roteiro, direção de tudo, quadros e ilustrações chave, dentre outros departamentos eu não abro mão! Precisam ser inteiramente meus para sempre.
12. Além da série principal, você planeja expandir o universo de "O Próximo Mundo" com episódios extras para membros. Como esse conteúdo complementar se integrará à narrativa principal e aprofundará o lore da série?
Douglas Xavier: A ideia é que os episódios extras sejam episódios mais contidos em termos de produção, restritos para os fãs financiadores do projeto, com informações e aprofundamentos que eu adoraria colocar na série principal, mas não pude por limitações orçamentarias ou de tempo. Nenhuma informação crucial para o desenrolar da trama principal estará nesses episódios, apenas aprofundamentos de relações de personagens, origens e conceitos para quem gosta tanto desse projeto e o apoia financeiramente ter um incentivo ainda maior para continuar ajudando.
Financiamento e Comunidade
13. A "Lista de Achievements" para os membros é uma estratégia inovadora. Como você acredita que esse sistema de metas palpáveis fortalece a relação com a sua comunidade e impulsiona a viabilidade financeira de projetos ambiciosos?
Douglas Xavier: A lista é uma espécie de progressão, onde gradativamente os membros financiadores vão desbloqueando cada vez mais coisas para eles e pro canal como um todo e quanto maior a meta alcançada mais legal a coisa desbloqueada. Eu acredito que é um jeito de incentivar aqueles que querem ver esses projetos acontecerem a colaborar e enquanto o fazem ter essa sensação de avanço. É um jeito de vislumbrar um futuro promissor também, principalmente com as metas de longo prazo.
14. Olhando para metas de longo prazo, como a produção de "Os Viajantes" em animação ou até um live-action, qual você acredita ser o maior desafio para a indústria de conteúdo independente no Brasil alcançar esse nível de produção?
Douglas Xavier: Existe uma série de desafios, mas o maior deles é monetário! Tudo isso é muito caro! Fazer uma animação já é algo muito difícil de se sustentar, eu mesmo tenho muitas dificuldades e estou o tempo todo desenvolvendo maneiras de tornar a série cada vez mais sustentável; é tudo muito instável e estamos falando só de animação. Quando o assunto é live action tudo isso dobra ou triplica. Estamos falando de mais gente, mais recurso, mais cenário, no sentido de desenvolver um ecossistema em que várias pessoas estejam fazendo isso e exista uma cultura de consumo disso muito grande. Os produtores precisam de mais incentivo, mais financiamento, mais público, precisa ser expandida toda uma cultura no consumo de obras nacionais que muitos brasileiros ainda não têm. É um longo caminho que a cena brasileira tem pela frente, mas que trilharemos com prazer!
Expansão Transmídia e Publicações
15. Além do formato de série animada, o universo de 'O Próximo Mundo' tem um potencial narrativo imenso. Você já considera ou possui uma estratégia para expandir esta história para outras mídias, como Histórias em Quadrinhos (HQs), mangás ou webcomics, como forma de aprofundar o lore e atingir novos públicos?
Douglas Xavier: Na verdade, não! O Próximo Mundo foi um negócio muito orquestrado para audiovisual mesmo. Foi o objetivo desde o começo e meu foco é fazer isso dar certo. Claro que não acho impossível migrar para outras mídias, mas não é algo que planejo, exceto, talvez, um futuro livro, com os roteiros da série, que são escritos de maneira “novelizada”. Isso eu realmente teria alguma vontade de fazer.
16. A expansão para HQs ou mangás pode atrair um público que consome mais literatura gráfica do que conteúdo em vídeo. Você enxerga isso como uma oportunidade estratégica para tornar 'O Próximo Mundo' uma franquia multimídia mais acessível e diversificada?
Douglas Xavier: Certamente atrairia um público novo. Mas eu acredito e sou muito adepto do audiovisual e o acho muito mais mainstream. Se tem uma mídia capaz de furar todas as bolhas e atingir qualquer nicho possível. Esta seria o audiovisual.
17. Do ponto de vista prático, o financiamento para um projeto desse tipo viria integralmente da comunidade do canal (através de metas de membros, por exemplo) ou você consideraria parcerias com editoras ou plataformas especializadas para viabilizar e distribuir a obra?
Douglas Xavier: Tudo isso teria que ser pensado, mas a própria comunidade financiar é um caminho, embora fosse algo para longo prazo, pois a comunidade tem que crescer muito para ter o escopo de financiar algo assim.
Legado e Reflexões Finais
18. Completa a primeira temporada de "O Próximo Mundo", qual você considera ser a lição mais valiosa que você aprendeu como contador de histórias e produtor audiovisual?
Douglas Xavier: Consistência, paciência, lidar com expectativas, pessoas, pensamento de longo prazo, essas são apenas algumas das coisas que essa produção me ensinou. Naturalmente houve muitas outras, a maior escola que eu tive na minha vida foi produzir “o Próximo Mundo”, muita coisa do ponto de vista técnico foi aprendida na marra, muito método foi desenvolvido, aprimorado, realmente é tudo um aprendizado gigantesco. Eu brinco que depois de OPM, tudo oque veio depois ficou fácil! Porque estar exposto àquele nível de desafio te torna um artista muito mais completo.
19. O que você espera que o público tire de mais significativo da experiência de assistir a "O Próximo Mundo"?
Douglas Xavier: Eu acho que a minha missão como criador da série é que o público sinta coisas reais a partir de algo que não é real. Tudo isso, todo esse esforço a fim de trazer aquele roteiro pra tela é para que sentimentos reais sejam provocados na audiência. Da surpresa até a tensão, da raiva até o riso, da tristeza até a felicidade. É toda uma gama de sentimentos que eu quero que a pessoa experiencie e quanto mais coisas dessa sorte eu conseguir arrancar da minha audiência, quanto mais arrepios, lágrimas, sorrisos, olhos arregalados eu conseguir extrair, mais bem sucedido eu vou ser. Essa é minha intenção e minha missão.
20. Para aspirantes a criadores de conteúdo que sonham em realizar um projeto de grande escala como o seu, qual seria o seu conselho mais crucial para dar o primeiro passo e, mais importante, para perseverar até o final?
Douglas Xavier: A maioria massacrante dos que tentam algo assim, com o pouco de recurso que tem, desistem logo antes dos 10% porque percebem que estão lidando com algo muito maior que eles. Um trabalho que não tem fim, que parece infinito e muito mais complexo do que tudo o que fizeram antes. Meu principal conselho é que aprendam a viver pensando no longo prazo, que haja paciência ao planejar e por mais que você se ache uma pessoa paciente, esteja ciente que não é o suficiente ainda e trabalhe isso. Seja consistente, você não precisa matar um leão por dia no começo. Avance pouco, mas avance todos os dias, não comeque já se esgotando. Seus pequenos esforços diários, mas consistentes, é que no final vão gerar algo realmente grande.
É importantíssimo também ter a humildade de reconhecer que você não é um gênio e que sua soberba de achar que é um criador genial não vai te levar a nada, pois você não é um criador genial! Não é você quem decide isso! Quando você reconhece que tem muito o que aprender, muito o que desenvolver e começa a perseguir constantemente suas falhas, é aí que você começa a lentamente se tornar alguém capaz de fazer algo realmente muito bom.
Acima de tudo ame! Ame isso! Aprecie essa arte acima de tudo! Divirta-se com o processo. Se o processo não for gostoso para você, é questão de tempo até que desista. Aprenda a gostar de todo o caminho, inclusive de resolver os problemas que vão surgir, porque eles VÃO surgir, e meio que aos montes! Num volume que você não está esperando! Mas se você amar isso, ao ponto de não enxergar mais a sua vida sem... Parabéns! Você tem um sonho impossível de se desistir.
Para finalizar nossa conversa, Douglas, gostaria de abrir um espaço para que você deixe uma mensagem diretamente para o seu público e para os aspirantes a criadores que veem o seu trabalho como uma grande inspiração. O que você gostaria de dizer a eles?
E, por fim, qual é o seu maior sonho ou visão de futuro para o universo de 'O Próximo Mundo'?
Douglas Xavier: Mais uma vez eu gostaria de agradecer a oportunidade! Foi muito divertido responder as perguntas e compartilhar um pouco da minha trajetória com vocês. E eu gostaria de agradecer ao meu público também por terem ajudado tanto a tornar esse sonho que é “O Próximo Mundo” real. Se existe uma perspectiva de uma segunda temporada e se estamos aqui discutindo sobre um futuro para essa obra, muito se deve ao apoio que a mesma teve do público desde seu primeiro anúncio. Agradeço a todos que acreditaram e acreditam em mim e espero poder surpreender muito ainda.
Quanto aos aspirantes a criadores que veem em mim alguma inspiração, eu só queria dizer que isso é um grande combustível para e que não existe coisa mais gratificante, em meio a tudo oque eu posso provocar na audiência, gerar inspiração em alguém! Esse sentimento é poderoso e eu mesmo só estou aqui por grandes autores que eu admiro muito terem me impactado o suficiente pra eu querer botar a mão na massa. Então ser isso para alguém simplesmente não tem preço. Eu espero que sirva de combustível para que vocês coloquem seus sonhos em prática também.
E sobre meu maior sonho; eu adoraria viver num mundo onde “O Próximo Mundo” foi produzido até o final. Todas as suas temporadas. Onde eu montei um estúdio bem-sucedido e sustentável, capaz de produzir qualquer grande ideia que surja. Adoraria um mundo onde um live action com alto orçamento de “O Próximo Mundo” foi realizado e que essa história se tornou reconhecida nacionalmente, ao ponto de se tornar um símbolo brasileiro, que resista ao tempo, por gerações e gerações.

%20(1).jpg)
.jpeg)
%20(1).jpg)
-fotor-enhance-2025102721110.jpg)
%20(1).jpg)
.jpeg)
-fotor-enhance-202510272553.jpg)
-fotor-enhance-2025102721236.jpg)
O Douglas é sem dúvida o grande e um dos maiores artistas brasileiros, brilhante,é a pessoa mais esforçada que eu vi no YouTube
ResponderExcluir